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Rosa Pires, 1976.

Por Rosa Pires

     Desde criança a arte faz parte do meu universo, seja numa forma lúdica ou na minha própria história de vida. De origem humilde, achada no lixo e adotada por uma família que vivia no campo, lutei desde o primeiro instante pela sobrevivência. Foi na arte que  encontrei força para vencer, retribuindo cada instante de intensas emoções e aprendizado que a vida me reservou por meio da arte.

   Embora tenha ingressado profissionalmente no teatro em 1991, dedico desde muito cedo a aprender e compartilhar toda fantasia e encanto que a arte dramática me proporcionou, além do teatro, cultura e outras diversas formas de manifestações artísticas. Licenciada em Artes Cênicas, pós-graduada em Arte Intermidiática Digital Universidade Federal de Goiás - UFG, e especialista em libras sigo buscando aprender sobre os novos caminhos que a arte tem trilhado. Atualmente estudante de Artes Visuais, também pela UFG.

     Há 22 anos como professora de artes tenho trabalhado arduamente para por em prática meu principal projeto: contribuir para um mundo melhor com mais  sentimento e criatividade, tendo como principal ferramenta uma educação de qualidade, inovadora, dinâmica e antenada às inovações tecnológicas.

   

Arquivo pessoal: 1976, Rosa Pires.

Com muito carinho compartilho com vocês

a minha história

      Entender minha história é como tecer uma colcha de retalhos, costura-se cada pedacinho na esperança de um dia juntar todos os retalhos e formar uma grande manta. Sinto-me protagonista de uma novela mexicana, daquelas de roteiro mais improvável. Queria começar contando onde nasci para que vocês compreendessem, mas eu não sei onde foi. E também não sei o dia! Então vou começar pelos poucos "retalhos" que já juntei.

       Meus pais eram muito pobres. Chegaram a morar embaixo de uma lona. Minha mãe tinha problemas psicológicos e não tinha condição de cuidar de todos nós. Éramos 7 irmãos. Como não havia a mínima condição de alimentar a todas essas crianças, meu pai deu todos nós. Cada um para uma família diferente. Não o fez por vaidade, mas por amor. Precisávamos de uma chance, mesmo que isso significasse não nos ver nunca mais. Eu era apenas uma recém-nascida quando meu pai me deixou com uma senhora que morava no barraco ao lado e foi trabalhar em sua carroça. Não sei quanto tempo ele demorou para voltar, se um dia ou uma tarde, mas quando foi até lá para me ver. A senhora deu-lhe a triste notícia que eu havia morrido e ela me jogou fora. Desesperado, correu até um monte de caixotes e no meio do lixo resgatou-me nos braços. Apesar de não chorar mais, fraca e desnutrida, nós dois queríamos que eu sobrevivesse. 

      Alguns dias antes, meu pai soube de um casal que tinha interesse em adotar uma criança.​ Eles já tinham 6 filhos e também possuíam poucos recursos, mas como moravam na roça era possível produzir pelo menos o seu próprio alimento. O desejo de ter mais um filho na verdade foi uma promessa feita pela mãe que com receio de perder seu marido após uma enfermidade cancerígena no rosto, prometeu adotar a primeira criança que aparecesse. E foi em uma parada de ônibus em Taguatinga-DF que meu pai chegou comigo enrolada apenas em uma manta muito suja após me tirar do lixo. O casal assustou-se, pois não queriam uma criança para enterrar. Depois meu pai era negro, assim como meus traços também. Pensaram: o que as pessoas vão pensar?

      Compadecidos com a situação, decidiram me levar ao hospital mais próximo e depois me devolveriam. Ao chegarem no hospital fui desenganada, os médicos disseram não ter mais o que fazer. Depois dos primeiros socorros e me alimentarem, levaram-me para uma cidade chamada Pires do Rio em Goiás onde conheciam um ótimo médico, que também era curandeiro. Não tinha mais nada a perder, então nessas horas vale tudo.

João Luiz Fernandes, 1966

Minha família adotiva, foto de 1966.

       O tratamento foi longo, durou alguns meses. Quando voltei eu já não corria mais risco de morte. Foi aí que foram atrás do meu pai para me devolver, mas não mais o encontraram. E eles já haviam se afeiçoado a ponto de me acolher como filha do coração. E tudo correu exatamente como tinha que ser, porque nada acontece por acaso. 

       Por diversas vezes a vida foi muito dura comigo, mas desde o princípio soube que também me foi concebido muitos milagres. A própria Arte foi um milagre em minha vida. Foi um meio de retribuir com alegria toda sorte que sempre tive. Através da Arte pude reescrever uma história melhor, com mais dignidade, menos miséria e mais esperança.

SAIBA MAIS:

Todo artista representa em sua arte sempre um pouco do que ele é, viveu e acredita. Conto minha história a vocês para que entendam minha arte e sintam tão intensamente quanto eu tenho sentido a vida. Compartilho mais um pouquinho da minha história apresentando a vocês meu filho Rafael, meus pais adotivos e minha paixão pelos animais - Rodrigo: O gato.

João Luiz Fernandes e Catarina Pires Fernandes.
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